A arte litúrgica, a arte sacra e a arte religiosa cristãs parecem a mesma coisa, mas não são. São coirmãs, porque, numa saudável hierarquia, a religiosa bebe da fonte da sacra e estas, por sua vez, se inspiram na litúrgica. Faço arte para rezar. E a iconografia cristã sempre pretendeu ser uma janela para a eternidade. Conheça meu trabalho.
Mir - Francisco Miranda
Eis mais uma etapa da produção da porta de igreja de São Tomé, em Bonsucesso.
Sobre a madeira peroba rosa fizemos os desenhos (veja a postagem do dia 30/03/2012) em baixo relevo com a topia.
Veja o resultado no vídeo abaixo:
No processo de montagem da porta da Igreja de São Tomé, vamos produzir xilogravuras feitas dos desenhos esculpidos na madeira (peroba rosa) em cada almofada do conjunto de 8 partes que compõem a porta.
Vejam algumas fotos dessa produção e seu resultado magnífico.
Atelier Hagia Sophia: Porta de São Tomé - processo: Uma obra de arte visual, bem como de arte sacra tem um processo que eu gosto de apresentá-lo sempre que possível. Nesse caso, trago-lhes mais uma etapa da produção da porta. Nessa etapa esculpimos com a topia os desenhos das 8 almofadas que compõem a porta.
Eis algumas fotos:
A Porta que realizamos para a Igreja de São Pedro, no Encantado, recebeu novos acabamentos, como o portal de pedra e a finalização das pedras de granito vermelho nas escadas de acesso.
A matéria O
madeira usada na confecção da porta é oriunda da demolição da fábrica de
ladrilhos hidráulicos FRPINTO, que existia em Bonsucesso e fora fundada e pelo
sr. Francisco Pinto. Esta fábrica é a origem de muitos pisos de ladrilhos
hidráulicos que existem ainda hoje em algumas igrejas do Rio de Janeiro.
Francisco Pinto era um benfeitor conhecido no seu bairro, e a doação desta
madeira de quase cem anos não deixa de ser uma homenagem a ele e a seu
trabalho. Sua fábrica ainda consegue dar finalidade diferente à sua obra. A
madeira é peroba do campo e peroba rosa, madeira de lei com alto valor no
mercado atual, porque sua extração é controlada. Este trabalho é a forma
correta de reaproveitar um lenho cuja função fora outra e que agora serve de
matéria para uma obra de arte. A Porta Santa “No
último ano Santo da Redenção, comemorando celebrando a abertura dos 2000 mil
anos do cristianismo, o Beato Papa João Paulo II fez a tradicional cerimônia de
abetrua da Porta Santa, que se localiza na entrada central da Basílica de São
Pedro, em Roma. Uma Porta Santa
é uma porta aberta pelo Papa para marcar simbolicamente o início de um Ano
Santo. Cada uma das basílicas maiores de Roma tem a sua Porta Santa, que é fechada e murada fora deste período especial.
A tradição remonta a 1423, ano em que o Papa Martinho Vabriu, pela primeira vez
na história, um ano jubilaratravés de uma Porta Santa na Basílica de São João
de Latrão. A abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro remonta ao Natal
de 1499. Nessa ocasião o Papa Alexandre VI quis que as Portas Santas fossem
abertas não apenas em São João de Latrão mas também nas outras basílicas
maiores, a de São Pedro, a de Santa Maria Maior e a de São Paulo Extramuros.
Até ao Jubileu do ano 2000 era costume que o Papa abrisse a Porta Santa da
Basílica de São Pedro, delegando depois esse poder a um cardeal para a abertura
das portas das três outras basílicas. O Papa João Paulo IIrompeu esta tradição
fazendo ele mesmo a abertura e o fecho de todas as quatro Portas Santas de
Roma: a da Basílica de São Pedro foi a primeira a ser aberta e a última a ser
fechada”.(Esta
parte do texto foi retirada da Wikipedia) A
igreja do Encantado dedicada a São Pedro tem agora sua Porta Santa, sinal da
fraternidade eclesial da qual participa, porque é coirmã da primaz basílica de
quem recebe o mesmo nome, Basílica de São Pedro, e, quem sabe um dia se torne
tal qual a igreja de Roma uma basílica, em porte, importância e referência. Teologia e símbolo Eu te darei as chaves do
Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus. (Mt 16,19) A
porta é lugar de acesso na arquitetura, por ela entramos e saímos dum ambiente.
Na arquitetura sacra e litúrgica é símbolo do lugar de entrada no Reino ou
passagem entre o sagrado e o profano. Por meio duma porta de igreja saímos do
mundo profano e entramos num lugar sagrado. No seu contrário, de algum modo
mais profundo, nossa saída da igreja para o mundo do dia a dia é a condução da
nossa sacralidade, participação na vida divina que nos vem pelo Espirito, ao
mundo, para tocá-lo com a mesma graça divina com que fomos abençoados. Na
porta estão as chaves que trancam ou abrem a nossa vida à graça da salvação.
Pedro recebeu as chaves da Igreja e com ela perpetua a obra da salvação abrindo
a todos os povos a realidade da vida divina que nos vem pelo Batismo. No brasão
do Vaticano estão duas chaves cruzadas que simbolizam esta dupla abertura e
fechamento, cujo poder foi dado a Pedro e que a Igreja dá continuidade ao
exercício deste poder, que não é outra coisa que serviço. Inspirado no desenho do brasão, elaborei duas chaves estilizadas cujas
linhas começam e não terminam, dando origem ao desenho duma chave que nos
lembra nossa realidade temporal: começamos no tempo e terminamos na eternidade.
Cada pessoa é eviterna, nasce e não morre mais. É o “éon” dos gregos ou “ævo”
dos latinos, evitenidade, tempo filosófico que representa e se aplica à nossa
natureza humana. A chave de Pedro nos abre a eternidade do Reino dos céus. Quando juntamos as duas partes da porta, formamos o conjunto do desenho,
cuja parte central é uma cruz patriarcal com três braços, evocando a cruz papal
e a dos patriarcas de Constantinopla e de outros patriarcados. A cruz é a chave
de entrada no Reino de Deus. A cruz nos abre as portas da eternidade.
O altar é mensa domini (mesa do Senhor). Assim eram chamados todos os altares dedicados. É a mesa da Ceia do Senhor, lugar onde repetimos o memorial celebrativo da Última Ceia, e o fazemos em memória d’Ele.
A matéria O altar é todo feito de pedra, figura da rocha do Gólgota onde foi crucificado o Senhor.
“E levaram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que, traduzido, quer dizer o lugar da caveira.” Mc 15,22
Parte superior
A parte superior da mesa do altar é feito de pedra, e isto é símbolo do lugar onde depositaram o corpo do Senhor antes de sepultá-lo.
“E o pôs em seu túmulo novo que talhara na rocha. E em seguida rolando uma grande pedra para a entrada no túmulo, retirou-se” Mt 27, 60
O altar é também a figura do sepulcro aberto, sinal da ressurreição do Senhor, lugar permanente da celebração da Páscoa que é cada eucaristia que celebramos.
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro.” Jo 20, 1
Base – os pés do altar A base do altar formada por seus pés de pedra maciça tem 5 arcos plenos desenhados em cada círculo visível. O primeiro arco pleno é completo, e representa uma abóbada invertida. Nas antigas igrejas, as cúpulas sempre tiveram esse formato de abóbada para simbolizarem o céu. Muitas delas eram pintadas de azul, e quando erguemos nossos olhos, podemos contemplar o céu que nos protege. No altar, o arco invertido, símbolo dessa abóbada celeste, nos fala da teologia da quénosis (esvaziamento) do Filho de Deus.
“Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” Fil 2,6-8
Doutra parte, o arco invertido nos fala do céu que nos toca quando da encarnação do Verbo de Deus. A Palavra divina manifesta sua força na humanidade assumida pelo Filho como sua natureza.
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.” Jo 1,14
Deus vem ao encontro do homem na descida do Filho, para que este mesmo homem volte com o Filho ressuscitado ao ceú, lugar de convívio e permanência em Deus, por meio do Filho que ascende. É duplo o movimento divino, descida e ascensão. Este duplo movimento é modelo da nossa mais profunda espiritualidade, devemos descer e subir com o Filho.
Podemos ver outros quatro arcos plenos cortados em 1/3 de sua parte, portanto um arco cuja plenitude foi retirada. Ele nasce do chão, ou seja faceia sua base com a terra. Representa, assim os quatro cantos do mundo, donde cada homem nascido do pó ergue seu louvor do nascer ao por do sol.
“Do nascer do sol até o seu poente, louvado seja o nome do Senhor.” Sl 112, 3
A eucaristia é celebrada a todo momento no mundo, e em cada um dos quatro arcos nossa ação de graças (eucaristia) está simbolizada.
“E, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim.’” 1 Cor, 11,24
Monumento memorial Por fim, o altar é memorial da Paixão, morte e ressurreição. Memorial enquanto monumento de beleza simples e mínima, cuja razão findamental é ser o lugar central da nave da igreja. Para lá todos os olhos se voltam e contemplam a beleza de um amor cuja plena manifestação é estar conoSco até o fim.
“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” Jo
A pedra da qual foram feitas todas as partes do altar se chama Preto São Gabriel, pedra de oriegm brasileira cujas jazidas se encontram em Minas Gerais. Até o tipo de pedra nos evoca a Encaranção do Verbo de Deus.
“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré”. Lc, 1,26
O altar de uma igreja é o seu centro e é para onde convergem todos os movimentos litúrgicos e sacros que acontecem nesta estrutura arquitetônica. Por que é o centro, os modelos das igrejas devem derivar dessa concepção. A nave, o presbitério, o ambão, a cátedra e todos os outros elementos estão relacionados com o altar.
O altar é o lugar do sacrifício. A imolação do Cordeiro aconteceu sobre a rocha do Gólgota. Numa rocha foi posto se corpo, e uma rocha foi arrastada quando da sua ressurreição.
O altar é a mesa da Ceia do Cordeiro que vai ser imolado. Ele é a palavra que fala e a própria palavra de quem se fala. É o falante e o falado. Sobre a mesa o memorial da ceia é repetido, celebração real e contemporânea da Páscoa do Cordeiro.
Sua imolação na cruz é caminho para a ceia que repetimos todos os dias nos altares que construímos.
No altar da igreja de são Tomé que hoje lhes proponho, seu projeto e execução (e em breve as fotos da montagem na própria igreja), estão vários desses conceitos preciosos à teologia e à liturgia.
O material do altar é rocha. Sua forma de mesa é para que fique explícito que é um lugar de refeição.
Suas formas minimalistas cortadas pela textura do entalhe nas curvas da base são símbolos de descida (kénosis) e subida (hupelaben) do céu para a terra e vice e versa.
O altar é o lugar onde o céu nos toca, donde que tocados somos elevados à condição divina. Nesse duplo movimento de descida e subida consiste a experiência espiritual de todos os tempos. O Pai vem ao nosso encontro por meio de seu Filho, para que seu Espírito nos leve de volta à sua companhia divina.
Nos altares de cada igreja celebramos o memorial da morte vencida pela vida.
Apresento os primeiros desenhos da Porta da Igreja dedicada a São Tomé, que serão entalhados na madeira das almofadas. A técnica usa a topia para realizar os entalhes na madeira. Depois será possível fazer enormes xilogravuras do material.
A madeira usada para a execução da porta é peroba do campo e peroba rosa, ambas retiradas das sobras de lenho da demolição da antiga fábrica de ladrilhos hidráullicos, que havia no local onde hoje está erguida a igreja.
Os desenhos seguem a temática bíblica de representar o primeiro e o segundo testamento por meio das figuras símbolos da Lei, da Profecia, da Sabedoria, dos Salmos e dos Evangelhos. No topo da porta está a cena em que Tomé encontra Jesus ressucitado e crê.