sábado, 19 de janeiro de 2013

PORTA DE SÃO TOMÉ - SIGNIFICADOS



Vejam que imagem e escultura magnífica!
O Cristo em Glória com as quatro figuras aladas ao redor, 
o anjo, o leão, a águia e o touro.Detalhe de um pórtico românico de uma Igreja de Arles, na França.


Significado dos desenhos da Porta de São Tomé


A porta da Igreja dedicada a São Tomé foi concebida como uma representação estética da teologia das Sagradas Escrituras. A porta sempre é lugar de passagem. Por ela entramos no Reino de Deus. As suas chaves estão guardadas. Mas o Senhor sempre abre as portas aos pecadores redimidos.

O conjunto da porta traz imagens que são figuras das teologias vetero e neo testamentárias. A Revelação divina tem início com  Lei, é confirmada pela Profecia, conduz à Sabedoria e é fonte da Salmodia, que é o louvor permanente da comunidade orante. A escritura hebraica com sua divisão na torá (Instrução), neviim (Profetas) e kethuvim (Escritos), também é fonte de inspiração para esse trabalho. Nos evangelistas conhecemos a Revelação de Jesus Cristo, sua vida, mensagem, ensinamentos, paixão, morte e ressurreição. No fundo a arte sacra e litúrgica cumpre sua função querigmática, quando é anúncio estético dos sentidos e símbolos da fé.




No centro da porta estão desenhados as tradicionais imagens que simbolizam os quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João. 

A figura de homem com corpo angelical que tem as escrituras nas mãos é símbolo de São Mateus. O leão com asas é símbolo de São Marcos. O touro com asas é símbolo de São Lucas.



Estes quatro símbolos saíram da visão encontrada no relato do livro do profeta Ezequiel (Ez 1,10. O profeta vê a glória de Deus sobre um carro. Este carro tinha quatro rodas imensas que iam da terra ao céu. Em cada roda havia uma figura diferente, seres alados: um anjo, um leão, um boi e uma águia. A tradição cristã conferiu aos evangelistas os simbolismos desses quatro animais. São Jerônimo atribuiu a cada autor dos evangelhos uma dessa figuras.

O primeiro evangelho: Mateus, o símbolo é um homem alado (com asas). Mateus dá início aos seu Evangelho com a genealogia de Jesus, isto é, com o nascimento humano de Cristo (Mt 1,1-17).

O segundo evangelho: Marcos, o símbolo é um leão (com asas). Marcos começa seu evangelho com a pregação de João Batista no deserto, onde os leões habitavam. (Mc 1,1-8).



O terceiro evangelho: Lucas, o símbolo é um touro alado. Lucas começa seu evangelho com o anúncio de João Batista que aconteceu no templo, onde os touros eram oferecidos em sacrifício aos Senhor. (Lc 1,8-23)

O quarto evangelho: João, o símbolo é uma águia. Ela voa alto e em círculos. No seu evangelho o Espírito Santo o conduz às alturas e suas palavras são de grandeza sublime. (Jo, 1,1-18)



Ao redor dos quatro evangelistas as imagens que simbolizam o Antigo Testamento. 

Sabedoria

Na parte superior esquerda está uma mulher que é símbolo da Santa Sabedoria (Santa Sophia). Ela tem os medidores do tempo, o sol e a lua, e as letras alpha e ômega, princípio e fim do alfabeto grego. A sabedoria vem com o tempo, mas começa pela compreensão de sua passagem. Nada segura o tempo, que continuamente é, sendo o que foi, e se tornando o que será. Para o homem a sabedoria é finita, mas vem da infinitude divina. Assim a Sabedoria é Deus em seu amor.

"Eu a amei e procurei desde minha juventude, esforcei-me por tê-la por esposa e me enamorei de seus encantos." (Sab 8,2)
Salmodia

Na parte superior direita está um anjo que toca uma pequena harpa. Ele é símbolo do louvor divino, cuja principal função os anjos possuem, mas é também símbolo do louvor divino que diariamente o homem faz, do nascer do sol até o seu ocaso, louvando o nome e a grandeza de Deus. Na salmodia nós aprendemos que bom é o louvar o Senhor nosso Deus.
Salmo 150
Aleluia. Louvai o Senhor em seu santuário, louvai-o em seu majestoso firmamento.

Louvai-o por suas obras maravilhosas, louvai-o por sua majestade infinita.
Louvai-o ao som da trombeta, louvai-o com a lira e a cítara.
Louvai-o com tímpanos e danças, louvai-o com a harpa e a flauta.
Louvai-o com címbalos sonoros, louvai-o com címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor!
A Lei

Na parte inferior à direita (almofada) está a figura de Moisés que segura as tábuas da Lei. 
"Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo no monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto se tronara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor." (Ex 34,29)

Representação maior da teologia judaico-cristã, Moisés é o escolhido para conduzir o povo de Israel à Terra da Promessa. No caminho que é o 'tipo' e representação da peregrinação nossa de cada dia, Moisés recebe a Lei das mãos de Deus. Ele vê o Senhor e sua face muda. Contempla a Beleza e se torna belo. A Lei, simples codex de mandatos comuns a todos, é o exercício diário que conduz à beleza divina, que cada homem e mulher é chamado a transparecer no mundo.

Na transfiguração do Senhor, nos Evangelhos, Jesus aparece falando com Moisés e Elias. 
"Eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele." (Mt 17,3)

A Lei nos remete diretamente à conduta moral e à ética. Caráter e ação são típicos do humano. Nasce do que somos o jeito de ser que apresentamos ao mundo. O agir segue o ser, adágio latino que nos serve aqui como boa proposta de modo de viver. Quem vê o Senhor encontra n'Ele sua identidade primordial e transparece no dia a dia seu novo modo de ser e agir.

Os profetas


Meu Senhor e meu Deus! - São Tomé

Na parte superior, acima da porta, num formato triangular está a representação da cena evangélica em que Jesus encontro Tomé, após a ressurreição.
"Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe tua mão no meu lado. Não ejas incrédulo, ma homem de fé. Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus." (Jo 20,27-28)

Tomé está de joelhos diante de Jesus, que mostra sua mão direita e aponta para a chaga no seu peito, na altura do coração, por onde entrou a lança na hora da crucificação, bem após sua morte, e donde brotaram sangue e água. Em grego as palavras "kyrios mou theos mou" - Meu Senhor, meu Deus.


No alto da figura de Jesus aparece a manifestação da Trindade no triângulo com o olho que tudo vê, e que representa o Pai, donde procedem o Filho e o Espírito Santo. Este último vem representado na pomba. Ele promove no coração e na alma de Tomé o reconhecimento do Filho ressuscitado.

Ao lado da cena está Maria, Mãe de Deus, representada também nas letras gregas Μ, Θ e Σ, 'Marias Theotókos'. No canto esquerdo, o cordeiro imolado tem o coração ferido, donde brota uma fonte de água, símbolo do batismo. E atrás do Cordeiro, as cruzes, representação da Morte e Ressurreição do Senhor, porque não há Páscoa sem a Paixão. Ambas estão interligadas pelo mistério da salvação. O Cordeiro imolado é o Cristo Jesus ressurrecto que aparece ao descrente Tomé.




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