segunda-feira, 25 de março de 2013

ARQUITETURA DA IGREJA SÃO JOSÉ OPERÁRIO - PRELIMINARES


A Semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo, introduziu o Brasil no movimento modernista.
Artistas, intelectuais, músicos, etc, assumiram os ideais modernistas ao romperem com os padrões chamados 'clássicos'.
Deste movimento nasceram todas as tendências artísticas que conhecemos hoje.
O cubismo e o concretismo são algumas delas.
A Igreja resistiu durante algum tempo às novidades artísticas do modernismo, mas logo sucumbiu à sua força teórica, e reproduziu em sua arquitetura e arte litúrgica ou religiosa os padrões desse novo movimento artístico e filosófico.
A igreja de São José Operário, com sua arquitetura magnífica, traz esses elementos, e, acredito, começa a romper com os padrões neoclássicos (tentativa de reação contra o modernismo) que existem em algumas igrejas no Rio construídas contemporaneamente à sua edificação.
Só para citar, por exemplo Santa Cecília (Bangu), N.S. da Conceição (Realengo), N. S da Paz (Ipanema), etc. Todas reeditaram linhas arquitetônicas do Românico e do Gótico, algumas até com arcobotantes (estruturas arquitetônicas com a função de sustentar as paredes das antigas igreja góticas na Europa), que são falsos e meramente estéticos.
A São José Operário é fruto, acredito, do período Getulista, do movimento operário nascente, da CLT, da ordem, da construção funcional (Bauhaus), dos conjuntos habitacionais para os operários. A região da Vila Nova era chamada de "a pequena Moscou".
Nas artes visuais estão Picasso, Mondrian, Portinari, etc. Eles todos imprimiram em suas esculturas e pinturas elementos modernistas, cores chapadas e formas geométricas simples (quadrados, losangos, círculos, etc). 

Parece-me, por isso, a razão da igreja ter as curvas perfeitas dos arcos ogivais que se formam no entrecruzamento dos arcos plenos de suas colunatas distintas, ao mesmo tempo e que tem formas absolutamente primárias e geometricamente perfeitas. Além disso a planta baixa segue o modelo da cruz romana. Os materiais usados já são novos para a época: blocos de vidro no vitrais das naves laterais e da fachada, cobogó de cimento armado no átrio de entrada e que ajuda a sustentar a laje também feita em concreto armado. A base de sua alvenaria é composta por blocos de concreto. Todos elementos e materiais novos da arquitetura moderna.
Nossa igreja é modernista, concretista e cubista. Pena que a pintura de São José foi extirpada.
O cartaz para o Jubileu traz um pouco disso tudo: formas geométricas simples (retângulos e quadrados), cores chapadas e quase primárias, fontes limpas para os textos e a nossa marca contemporânea.
As cores múltiplas vêm da curva da paleta de cores e representa cada pessoa que ajudou a construir a Igreja viva neste 50 anos.
As cores estão em retângulos sobrepostos, imagem da parede de uma construção, como se para edificar a Igreja ninguém devesse ser preterido. Todos são pedras ou tijolos fundamentais.
O arco ogival (curva típica da arquitetura gótica) e presente nas colunas da igreja, corta o cartaz de baixo para cima, como se, partindo da terra, onde vivem os crentes, ele levasse cada um até o céu.







IGREJA DE SÃO JOSÉ OPERÁRIO - NOVO PROJETO

Após 21 anos, novamente promovi uma intervenção artística litúrgica e sacra na Igreja de São José Operário, em Realengo, no Rio de Janeiro.

Dessa vez, a ação foi composta por um projeto de nova iluminação, que incluiu a pintura com uma cor mais clara (escolhi a algodão egípcio da linha da Suvinil, tinta acrílica própria para paredes internas). O objetivo era ampliar a percepção do espaço com maior reflexão da luz.

Para iluminar as naves laterais e a nave central, concebi um lustre com 8 lâmpadas fluorescentes 'mornas', cor levemente amarelada (a luz fria era usada anteriormente). As lâmpadas estão dentro de 8 tubos de vidro quadrados - Luvidarte - agradeço a indicação e importante participação do Sr. Antônio, dono do Casarão dos Lustres. Os tubos estão pendurados em partes fixas como se fossem lanternas flutuantes, e o formato retangular do lustres (em conjunto com os tubos) procura estabelecer a mesma ideia de simetria que a arquitetura em formato de cruz romana da igreja sugere.

Para compor o projeto e completar a iluminação há 8 spots de luz HQI 150, com focos dirigidos para o teto e a parte superior das paredes e colunas. As luzes fazem desenhos no teto que lembram a figura de peixes, desenhos formados pela sombra dos arcos, cujo símbolo remonta ao nome que os cristãos usavam para se identificar em meio às perseguições - ICHTHYS - Iesous Christós Theoú Yiós Soter - palavra grega que nomeia peixe, e que traz o significado do discípulo de Jesus - Jesus Cristo de Deus Filho Salvador.

Na capela do Santíssimo fiz duas novas paredes revestidas com azulejos brancos e sobre as quais instalei em linhas primárias um arco ogival, como o encontro dos arcos plenos sugerem no cruzamento próximo ao teto sugere. Nas paredes farei dois painéis pintados sobre os azulejos, que serão objetos de apresentação no futuro.

Vejam o resultado no vídeo a seguir.




sexta-feira, 22 de março de 2013

PROJETO IGREJA SÃO JOSÉ OPERÁRIO - REALENGO

Antes de publicar as imagens da recente intervenção que fiz na igreja de São José Operário, feitas para celebrar o seu jubileu de ouro, 50 anos da sua fundação, gostaria de partilhar com vocês algumas idéias mentoras do meu trabalho, apresentando minha tradução livre do capítulo V - O Templo - do livro "Teologia della Belleza" de Pavel Evdokimov.  Aos poucos darei prosseguimento às outras partes.


1. O desenho divino e a origem celeste do templo

“O templo é o céu terrestre, nos seus espaços celestes Deus habita e passeia.” Estas palavras do Patriarca Germano¹ nos fazem ver por dentro o significado vertiginoso do templo cristão. Os Bizantinos trabalharam sobre o espaço como lugar e morada de Deus; o seu problema arquitetônico procurava o acordo entre a escala natural do humano e a escala transcendental do infinito.

As tentativas recentes de encontrar as formas adaptadas à mentalidade moderna muitas vezes levaram a arquitetura a se afogar na paisagem circunstancial e nas preocupações locais. Trata-se de uma arte religiosa antropocêntrica, que exprime o homem com as suas emoções e a sua procura estética de expressões e de formas. Essa arte esquece totalmente o desenho originário dos grandes artistas e construtores, o próprio mistério do templo e a arte sacra teocêntrica que exprime a descida de Deus na sua criação. É perfeitamente legítimo procurar formas novas, mas isto deve exprimir um conteúdo simbólico que permaneceu idêntico através de todas as épocas, porque a sua origem é celeste. Os construtores modernos devem escutar e compreender as sugestões do arquiteto supremo que é o Anjo do templo (Ap 21,15).

Desde o início, todos os templos cristãos deviam ter o mesmo desenho que remonta à visão do Templo da Jerusalém celeste: por isso, esta arquitetura fala a mesma linguagem. É o ensinamento profundo que vem do ícone de Cristo “não feita pela mão do homem” (Il Santo Rosto). Todo ícone remonta a este arquétipo traçado pelo Espírito Santo². É também o sentido da Tradição, segundo a qual certos ícones foram realizados pelos anjos. Todavia, a origem divina pressupõe uma receptividade ativa e doutra parte funda a existência de uma norma canônica. Assim, o Concílio de 787 decreta: “A composição das imagens não é deixada somente à iniciativa dos artistas”, essa deve obedecer às exigências do Mistério litúrgico, ao advento de Deus que estabelece regras arquitetônicas e iconográficas conforme a sua Presença.

De fato os santuários do Antigo Testamento foram edificados segundo as indicações do próprio Deus: a arca da Aliança (Ex 36,34), o templo de Moisés (EX 25,8-9) e aquele de Salomão são construídos segundo um “modelo inspirado do Espírito” (1Cr 28,12.19), “que Tu preparastes desde a origem” (Sab 9,8; Ez 4,10-11). São Clemente de Roma precisa a tradição à qual se refere o ritual da consagração do templo: “Deus mesmo escolheu o lugar onde se devem celebrar os ofícios”³. A tradição é sublinhada por Eusébio na História Eclesiástica, e mostra uma convergência entre a ideia judaica do Templo-residência do Altíssimo e a ideia cristã da Nova Jerusalém do Reino de Deus. Segundo o Apocalipse de Baruc⁴, a Jerusalém celeste foi criada pelo próprio Deus no Paraíso, portanto “in aeternum”.

¹ S. Germano, In Sanctae Mariae zonam, PG 98, 384.
² “Todo ícone recebe a graça do Espírito Santo”, diz S. JoãoDamasceno no seu Discorso sulle ícone, PG 94, 300.
³ S. Clemente de Roma, Ad Cor. 1, 40.
Apocalisse di Baruc, 2 IV, 3-7.