sexta-feira, 22 de março de 2013

PROJETO IGREJA SÃO JOSÉ OPERÁRIO - REALENGO

Antes de publicar as imagens da recente intervenção que fiz na igreja de São José Operário, feitas para celebrar o seu jubileu de ouro, 50 anos da sua fundação, gostaria de partilhar com vocês algumas idéias mentoras do meu trabalho, apresentando minha tradução livre do capítulo V - O Templo - do livro "Teologia della Belleza" de Pavel Evdokimov.  Aos poucos darei prosseguimento às outras partes.


1. O desenho divino e a origem celeste do templo

“O templo é o céu terrestre, nos seus espaços celestes Deus habita e passeia.” Estas palavras do Patriarca Germano¹ nos fazem ver por dentro o significado vertiginoso do templo cristão. Os Bizantinos trabalharam sobre o espaço como lugar e morada de Deus; o seu problema arquitetônico procurava o acordo entre a escala natural do humano e a escala transcendental do infinito.

As tentativas recentes de encontrar as formas adaptadas à mentalidade moderna muitas vezes levaram a arquitetura a se afogar na paisagem circunstancial e nas preocupações locais. Trata-se de uma arte religiosa antropocêntrica, que exprime o homem com as suas emoções e a sua procura estética de expressões e de formas. Essa arte esquece totalmente o desenho originário dos grandes artistas e construtores, o próprio mistério do templo e a arte sacra teocêntrica que exprime a descida de Deus na sua criação. É perfeitamente legítimo procurar formas novas, mas isto deve exprimir um conteúdo simbólico que permaneceu idêntico através de todas as épocas, porque a sua origem é celeste. Os construtores modernos devem escutar e compreender as sugestões do arquiteto supremo que é o Anjo do templo (Ap 21,15).

Desde o início, todos os templos cristãos deviam ter o mesmo desenho que remonta à visão do Templo da Jerusalém celeste: por isso, esta arquitetura fala a mesma linguagem. É o ensinamento profundo que vem do ícone de Cristo “não feita pela mão do homem” (Il Santo Rosto). Todo ícone remonta a este arquétipo traçado pelo Espírito Santo². É também o sentido da Tradição, segundo a qual certos ícones foram realizados pelos anjos. Todavia, a origem divina pressupõe uma receptividade ativa e doutra parte funda a existência de uma norma canônica. Assim, o Concílio de 787 decreta: “A composição das imagens não é deixada somente à iniciativa dos artistas”, essa deve obedecer às exigências do Mistério litúrgico, ao advento de Deus que estabelece regras arquitetônicas e iconográficas conforme a sua Presença.

De fato os santuários do Antigo Testamento foram edificados segundo as indicações do próprio Deus: a arca da Aliança (Ex 36,34), o templo de Moisés (EX 25,8-9) e aquele de Salomão são construídos segundo um “modelo inspirado do Espírito” (1Cr 28,12.19), “que Tu preparastes desde a origem” (Sab 9,8; Ez 4,10-11). São Clemente de Roma precisa a tradição à qual se refere o ritual da consagração do templo: “Deus mesmo escolheu o lugar onde se devem celebrar os ofícios”³. A tradição é sublinhada por Eusébio na História Eclesiástica, e mostra uma convergência entre a ideia judaica do Templo-residência do Altíssimo e a ideia cristã da Nova Jerusalém do Reino de Deus. Segundo o Apocalipse de Baruc⁴, a Jerusalém celeste foi criada pelo próprio Deus no Paraíso, portanto “in aeternum”.

¹ S. Germano, In Sanctae Mariae zonam, PG 98, 384.
² “Todo ícone recebe a graça do Espírito Santo”, diz S. JoãoDamasceno no seu Discorso sulle ícone, PG 94, 300.
³ S. Clemente de Roma, Ad Cor. 1, 40.
Apocalisse di Baruc, 2 IV, 3-7.



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