sexta-feira, 13 de maio de 2011

ICONOGRAFIA E SEUS SENTIDOS

Teologia da Beleza - O ícone e a liturgia
"A forma arquitetônica de um templo, os afrescos, os ícones, os objetos de culto, não são um museu, mas, como membros de um corpo, vivem de uma mesma vida mistérica, e são integrados no mistério litúrgico. Antes, é essencial, e não se pode compreender um ícone fora desta integração. Nas casas dos fiéis o ícone é posto no alto e no ponto dominante do espaço. Esse conduz o olhar para o alto, para o Altíssimo e para o único necessário. A contemplação orante passa, por assim dizer,  pelo ícone e não pára nele, mas no seu conteúdo vivente que ele traduz."
(in Teologia della bellezza - Pavel Nikolaevic Evidokimov)


Vejam este ícone muito conhecido e conservado na Basília de Santa Sophia em Constatinopla, hoje Istambul. É um mosaico ricamente ornado cuja riqueza de detalhes aparece na disposição das peças que o compõem. Um olhar mais atento bem de perto vai mostrar o cuidado que seu autor desconhecido teve para que, à distância, fosse preservado o conjunto de uma obra que prima pela delicadeza.
Não cabe estudar a aplicação das cores, nem o formato clássico triangular equilátero que a imagem deixa transparecer. Vale a pena entrar no que  Evidokimov quis nos dizer sobre o lugar do ícone sagrado na vida litúrgica e na nossa vida.
Primeiro uma passagem pela importância dos ícones nas nossas vidas.
Por meio dos ícones somos conduzidos ao alto. Sua contemplação silenciosa é uma abertura ao conhecimento da dimensão amorosa de Deus que nos favorece com dons divinos.
Ver o Pai é o desejo mais íntimo da alma humana. Contemplar seu criador e a razão de nossa existência é a busca mais profunda do humano. Por certo é que no silêncio mais íntimo de nossas almas estamos querendo encontrá-lo, ver sua face amorosa e compreender definitivamente que não há outra coisa a fazer que amá-Lo.
Este ícone (uma belíssima reprodução sua) em especial já tive a oportunidade de contemplar em silêncio de horas no Mosteiro Camaldolense de Mogi das Cruzes, em São Paulo (1992).
Naquelas horas fui conduzido pelo Espírito a ver o Pai sem que isso me destruísse. Não esquecerei nunca aqueles raros instantes de paraíso que Ele me permitiu na sua infinita bondade viver.
A felicidade humana começa justamente nesse encontro. Deus o encontra no seu caminho particular e você sabe que não poderá mais viver sem Ele.
Um ícone, maior representação do que a arte litúrgica e sacra pode produzir é esse valioso instrumento que podemos e devemos preservar e difundir.
Não é necessário que façamos o ícone nos mesmos moldes que o Oriente fez e faz. Ainda que seja possível fazê-lo inclusive no Brasil onde há artistas ortodoxos que preservam sua técnica. Mas se compreendermos sua teologia e a própria iconosofia que lhe explica, poderemos seguir uma escola nossa e continuar reproduzindo esse maravilhoso instrumento de abertura da alma para o eterno.
Mir

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